terça-feira, 23 de outubro de 2007

Marçonaria

O fim dos Templários

Ao ingressar na Ordem dos Templários, oficialmente criada e reconhecida em 1185 e diretamente subordinada ao papa, única autoridade acima do Grão Mestre, o monge abria mão de toda a sua propriedade em prol da Ordem que, a este tesouro agregou muito do que foi conquistado ou transacionado durante o auge das Cruzadas. Os Templários se tornaram uma das mais sólidas forças econômicas da Idade Média e chegavam a efetivar muitas transações parecidas com atividades bancárias.
Com a Europa cercada ao Norte pelos Vikings, ao sul e sudeste pelos Muçulmanos e a leste ora por Hunos, ora por Mongóis, era importante contar com um grupo armado capaz de proteger riquezas em transportes ou mesmo garantir o pagamento de pequenos montantes mediante apresentação de uma identificação positiva do portador do que seria equivalente a um “título bancário” moderno. Fosse metade de uma jóia com encaixe perfeito ou uma carta criptografada na qual se revelavam as perguntas a serem feitas ao portador que, respondendo apropriadamente, receberia o crédito esperado em qualquer unidade dos Templários em qualquer lugar da Europa, África ou Palestina. Ao invés de viajar com riquezas, muitos preferiam contar com este serviço dos Templários que, naturalmente, cobravam um valor justo para realizá-lo e assim ampliavam seu tesouro.
O ano de 1305 encontra a Ordem dos Cavaleiros do Templo e a Ordem dos Hospitalários sediados na ilha de Chipre, pois os muçulmanos haviam retomado a Terra Santa. Ansiavam por uma última Cruzada, que jamais ocorreu. O rei da França Felipe de Valois, conhecido como “Felipe o Belo”, concebeu um plano voltado a apoderar-se da enorme riqueza dos Templários e ter perdoada sua enorme dívida para com a Ordem e assim amealhar recursos para seus projetos temporais de ampliação territorial sobre a Inglaterra. Para tanto precisava da aquiescência do papa Clemente V (Bernardo de Goth, ex-arcebispo de Bordeaux) que, imediatamente, concebeu o plano de unificar as duas Ordens rivais, ou subordinar todos aos Hospitalários. Convocou os dois Grãos Mestres de ambas as Ordens a um encontro em Paris. O Grão Mestre dos Hospitalários deu uma desculpa convincente e faltou ao encontro. Jacques De Molay, Grão Mestre dos Templários, então contando quase 70 anos de idade, compareceu ao encontro com dois documentos: um plano detalhado para uma nova Cruzada (que presumia ser o principal motivo da convocação) e um arrazoado explicando as diferenças e motivos que considerava relevantes para manter Templários e Hospitalários como ordens distintas.
De Molay foi recebido com todas as honras em Paris. Durante dois anos – período durante o qual Felipe de Valois ficou de apresentar sua decisão final sobre os dois documentos trazidos por Jacques De Molay – Guilherme de Nogaret, ministro de Felipe “o Belo”, arquitetou o plano para aprisionar a um só tempo todos os Templários em todos os pontos da Europa. Foram expedidas cartas lacradas aos senescais (líderes políticos e religiosos locais) de todas as paróquias com ordens expressas de somente abri-las a 12 de setembro de 1307. Naquela data, Jacques De Molay contava-se entre os maiores nobres da Europa a carregarem o caixão da princesa Catarina, falecida esposa do irmão do rei Felipe, Carlos de Valois. No mesmo momento em que o Grão Mestre dos Templários participava deste solene evento fúnebre em companhia dos nobres, não havia meios que lhe permitissem saber da trama, menos ainda do conteúdo das cartas que, abertas, tornariam a sexta-feira 13 (naquele caso de setembro de 1307) o dia mais aziago do ano: 15 mil homens (o número total de Cavaleiros Templários) deveriam ser aprisionados em grilhões especialmente confeccionados e despachados a todos os pontos com esta finalidade.
As acusações que conduziram os Templários a tal situação, evidentemente forjadas, variavam de pederastia até a profanação de objetos sagrados passando por uma gama variegada de peculiares consideradas sacrílegas e heréticas ao imaginário da Santa Inquisição.
De defensores maiores da Fé Católica, subordinados diretamente ao papa, autoproclamado “Vigário de Deus na Terra”, passaram os Templários, na sexta-feira 13 de setembro de 1307 à condição de hereges e, como tal, deveriam ser e a maior parte deles o foi, supliciado de maneiras monstruosas como, após anos de torturas as mais diversas, ter o ventre aberto a faca e ver suas entranhas serem arrancadas e jogadas ao fogo morrendo lentamente entre tormentos atrozes... Aqueles que assistiram ao filme “Coração Valente”, de e com Mel Gibson, vislumbraram como eram as práticas da Santa Inquisição naquele período histórico embora haja uma falha no filme: a Santa Inquisição não era então admitida na Inglaterra. Já o suplício é nele retratado com realismo. Um número enorme de Templários recebeu a pena de sofrerem a morte na fogueira; alguns com o beneplácito de ter um colar de pólvora amarrado ao pescoço (o que apressava a morte) outros em lenha seca, ardendo lentamente...
Jacques De Molay foi supliciado por 7 anos. Sob tortura o cidadão confessa tudo o que o torturador desejar ouvir – aliás, é justamente por isso que a tortura não é aceita como método para se extrair confissões na maior parte dos países ditos civilizados do mundo contemporâneo, embora saibamos que mesmo o mais poderoso e autoproclamado mais civilizado de todos ainda o pratique escandalosamente como se vê em Abu Ghraib e Guantánamo, não para extrair confissões mas como mera prática de sadismo.
Não satisfeitos, o rei e o papa consideraram que uma confissão pública de culpa seria a única coisa que poderia convencer a todos de que os “crimes” inacreditáveis imputados aos Templários eram realmente verídicos. O Grão-Mestre Jacques De Molay e Guy D’Alvergnie, um dos mais elevados cavaleiros Templários foram conduzidos – corpos envelhecidos e alquebrados por sete anos de suplícios nos calabouços e masmorras francesas – ao cadafalso onde, após a confissão, lhes seria garantida uma morte rápida. Juntando todas as suas forças morais, ambos negaram a quantos ali estavam para ouvir, todas as supostas heresias de que eram incriminados. A pena para tal comportamento segundo as leis da Santa Inquisição era uma só: morte na fogueira. Toda a riqueza dos Templários foi transferida para a Ordem dos Hospitalários por ordem do papa.

Enquanto isso...

Na Inglaterra a Santa Inquisição não era recebida em 1307. Menos ainda na Escócia. Na Península Ibérica (faceando-se aos mouros dentro de seu próprio território) os dirigentes não manifestaram qualquer disposição para erradicar seus mais valorosos defensores, mesmo que ali o aparato da Santa Inquisição atuasse dramaticamente. Na região da Prússia (mais ou menos onde ficam hoje a Alemanha e a Polônia) tampouco houve perseguições significativas. Os Templários eram poderosa e segura barreira contra os magiares e mongóis.
Estas circunstâncias propiciaram tempo, bastante tempo, aos remanescentes dos Templários, irmanados por laços ainda mais fortes ao perder o seu vínculo com Deus através da Igreja Católica Romana, profundamente religiosos e acostumados a um linguajar codificado, à auto-proteção diante de um adversário poderoso e grande habilidade bélica, a que se articulassem para resistir “na clandestinidade”, como diríamos hoje. Tais circunstâncias obrigam ainda a, refeitos do susto e do medo, repensar os fundamentos de sua Fé e mesmo nutrir sentimentos de vingança.
Examinando cautelosamente todos que apresentassem potencial, concediam Iniciação à Ordem àqueles que tivessem justos motivos para temer a mão pesada do papado e de sua Santa Inquisição. Assim, não é delirante supor que muitos alquimistas e rosacruzes, entre outros proscritos, tenham encontrado refúgio seguro sendo aceitos entre estes irmãos perseguidos tão injustamente pela Igreja Católica Romana.
Afastados das obrigações estritas da Regra inicialmente criada por Bernardo de Clairvaux, tais como os votos de castidade e pobreza, se aqueles Templários se mantiveram ativos em segredo, como tudo leva a crer, mantiveram uma série de comportamentos e ensinamentos, disfarçando-os, e acrescentaram uma série de outros de acordo com a evolução dos tempos. Por exemplo: no seio de que outro grupo encontrar refúgio para o desenvolvimento das ciências – particularmente condenadas pelo Vaticano – no quadro da Europa Medieval? Reporta-se que, em momentos de grandes incêndios na Europa, em especial na Inglaterra (no século XVII ocorreram grandes incêndios em Londres e Edimburgo, capital da Escócia) a reconstrução, em especial a Geometria, tomou conta desta Organização então Secreta com tal vigor que esta palavra tornou-se praticamente sinônimo de Maçonaria.
Um grupo grande de homens, coeso, irmanado e subitamente perseguido pela Igreja que até então venerava, encontrou meios de sobreviver, manter-se e progredir a despeito de todas as agruras, perseguições, campanhas mentirosas e crises. Sempre se suspeitou haver alguma forma de conexão entre a Ordem dos Templários e a Maçonaria, mas poucas provas se apresentavam e nenhuma suficientemente convincente. Aquelas apresentadas por John J. Robinson convencem além de qualquer dúvida possível.
A mais contundente diz respeito precisamente à Rebelião Camponesa de 1381 na Inglaterra (70 anos depois do decreto papal dissolvendo a Ordem do Templo!) que teve como alvos precisamente os representantes do papado e da monarquia francesa na corte britânica, além da Ordem dos Hospitalários. Liderada por um homem chamado “Tyler” que destruiu boa parte das propriedades e construções dos Hospitalários mas cuidadosamente salvaguardou a principal edificação Templária da Inglaterra, a Igreja da Rua Fleet, consagrada em 1185 pelo Patriarca de Jerusalém.

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